sábado, 7 de agosto de 2010

5,6,7,8


Existe um lugar em que eu não sou tão complicada, cheia de incertezas, medos e dúvidas. Nesse lugar e nesse momento, a única coisa que existe é a música. Eu perco a noção de tempo, e posso ficar ali pra sempre.. qualquer preocupação que eu tinha ficou para trás, escondida na coxia. Isso me eleva, e eu esqueço de contar a música. Mesmo que isso me faça ficar um compasso ou dois à frente, vale a pena estar ali, só por estar. Nessa hora eu não existo de verdade. Existe a luzinha que eu vejo piscando na cabine de som, o ritmo da minha respiração. Nem a dor nos meus pés, nem uma bolha contra o gesso da sapatilha, nem a dificuldade dos movimentos estão lá.
Eu sei que quando acabar, eu vou me lembrar de tudo, e aí sim talvez a dor e o nervosismo possam me atingir... mas não ali. Ali, eu sou quem eu quero ser. Até que as luzes se apaguem, eu sou dona de mim. Na minha idéia de paraíso, eu aconteço às piruetas. E quando estou no palco, tudo flui naturalmente.. e eu sinto que posso ser um pouco mais de mim.

blackout

Um comentário:

  1. Nunca achei que você pudesse descrever tão genuinamente a relação entre um artista verdadeiro e sua execução artística. É incrível. Só nós podemos entender o que significa ser transportado para um lugar onde não existe material. O poder incrível que a palavra "meta-físico" tem sobre nós. É quando tudo faz sentido. É quando percebo que não nasci por acaso. É quando percebo que a vida só é vida enquanto satisfazermos esse desejo tão intenso e que nunca alguém "normal" irá entender esta necessidade inata que guia todas as nossas ações.

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